terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Parte II

Seguindo o conselho do Sr. Andrade, eu resolvi montar minha própria ótica ... Contratei carpinteiro, vidraceiro, aluguei um ponto na rua da Matriz 114 em Santo Amaro.
Agora eu precisava escrever ou inventar um nome pra ótica.
Pensei a noite toda, de repente uma idéia, Vista Tropical, mais parece nome de bar.
Três horas da manhã encontrei o nome ideal Óptica Vital Vista, tinha tudo haver.
Óptica, óculos; Vital, necessário, Vista, olhos.
Cheguei em casa super feliz, falei com meu pai.
- Pai vou ser empresaria, vou montar minha própria ótica!
Ele estava encostado na porta, com os braços abertos, como que segurando o batente da porta.
Ele sorriu e disse:
- Mulher não sabe cuidar de negócios.
- O senhor vai ver como serei uma boa administradora e vou ter tudo que não tenho hoje!

Minha mãe também não concordou, mais mesmo com todos contra mim, montei a Vital Vista.
Só que nesse meio tempo discuti com meu pai. Eu disse que era dona do meu próprio nariz, ele simplesmente me respondeu:
- Eu também tenho parte nele!
E ainda me deu uma bofetada.
No dia seguinte arrumei minhas malas e fui embora. Fui dividir um apartamento com uma moça a Dora, ela era solteira, tinha uma caso com um senhor casado, mais ele raramente ia ao apartamento.
Deixei com meus pais meu filho de 4 anos, toda semana ia levar o dinheiro pra eles, mas só chegava até o portão, mandava meu filho dar o dinheiro pra avó dele, dava um abraço com o coração partido e ia embora.
Depois de um mês que a loja estava montada, minha irmã foi lá no ótica.

-Está trabalhando?
-Não.
-Todos estão bem?
-Sim, graças a Deus.

Não perguntei nada de meu pai, ainda estava muito magoada com ele.
Eu bancava tudo, e mesmo assim ele me desrespeitou, bateu em meu rosto, o que foi o cumulo do absurdo.
Mesmo assim, quando eu estava na casa dele, eu pegava o prato para colocar a janta, e ele retrucava por que eu não gostava de carne. Minha mãe mandava eu fritar um ovo, pra não comer arroz e feijão puro, ele dizia:
- Você não é melhor que nenhum daqui de casa, vai ter que comer o mesmo que nós.
Eu ficava muito chateada e acabava indo pra cama sem jantar.

Voltando ao assunto da minha irmã...
Eu a convidei para trabalhar comigo na loja.
Tinha sofrido um acidente de carro e não podia deixar a loja fechada, eu estava com 20 plaqueiros na rua distribuindo panfletos, precisava de uma pessoa para acompanhar as pessoas ao médico, para fazer o exame visual.
Eu tinha 3 médicos oftalmo, que trabalhavam comigo, era uma espécie de convenio.
Ela aceitou o emprego, e meus concordaram.
No dia seguinte ela veio começar o trabalho, ensinei ela a trabalhar de vendedora no balcão.
Com duas semanas que tinha montado a ótica eu já tinha o dinheiro de pagar o aluguel e os funcionários.
Tudo corria muito bem, até que um dia ao acordar estava vomitando sangue, não podia tomar nem água.
Fui no medico, um amigo, o Sr. Geraldo, foram receitados pra mim duas injeções por dia, mais os antibióticos e repouso absoluto.
Eu não queria. E a loja? Os clientes?
Tudo bem... Ele se ofereceu, “eu fico com sua irmã até você melhorar”.
Mesmo doente, ia pra loja quando me sentia melhor, passava mal e ia ficar em um quartinho dos fundos que tinha na loja.
Não estava indo ver meu filho, mas toda semana eu dava o dinheiro das compras.
De repente, batem na porta do apartamento. Era minha mãe e minha irmã.
Eu estava no quarto passando mal, a Dora abriu a porta.
Minha mãe entrou e foi logo arrumando minhas coisas.
- Você vai pra casa!
Eu não queria ir com ela, não queria voltar.
Estava bem, era por causa do acidente, só por isso estava com essas dores no estomago e nas costas. Quase morri, o carro bateu de frente pra um caminhão, a porta se abriu e fui jogada no asfalto. Fiquei dois dias inconsciente.
Falava com as pessoas, andava e tudo, mas não sentia nada, era como se eu tivesse sofrido uma amnésia.
Depois de minha mãe falar, falar, insistir e falar, eu disse que ia mais não queria olhar na cara do meu pai.
Eu queimava em febre, tomava banho toda hora.
Chegando lá, abracei meu filho Washington, meu irmão Alex com tanta emoção.
Comecei a dormir em um colchão na cozinha com meu filho depois de uma semana.
Meu pai chega na cozinha, eu estava deitada.
- Você ta bem Patrícia?
- Sim senhor!
Ele voltou para a sala e ficamos seis meses sem nos falar, morando no mesmo cubículo.
Pra mim aquilo nunca foi uma casa, era do tamanho de um ovo, e nem era ovo de pato por que é grande, era ovo de galinha mesmo, ou codorna... Sei lá.
Todos os dias ia a farmácia duas vezes ao dia tomar injeção, com uma semana voltei pro meu trabalho. Precisava recuperar o tempo perdido, por que como dizem as pessoas com mais experiência “os bois só engordam perante os olhos do dono”.
Nessa época já ia completar 19 anos.

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